A análise de Raul Neto, CEO da Randstad
Os resultados do barómetro são muito claros quanto às dimensões com maior impacto no crescimento da nossa economia. Por um lado, o facto de a actividade económica ser muito influenciada pela actividade governativa (68%) e pela conjuntura geopolítica (53%), e por outro lado o consensualizar das principais soluções apontadas para a resolução do já crónico problema da escassez de mão-de-obra. E se 62% dos empresários já apontavam a escassez de trabalhadores como um dos principais riscos económicos – como nos mostraram os dados do barómetro anterior – nesta edição, o consenso ganha forma concreta, com 50% dos inquiridos a apontar como solução prioritária a atracção de mais imigrantes com políticas de integração eficazes. Em segundo lugar, com 40%, surge o investimento na automatização e digitalização. Temos empresas com ambição de crescer, sectores com procura crescente de talento e um mercado laboral que não consegue dar resposta. E a percepção é clara: não só precisamos de atrair mais talento do exterior, mas também de preparar melhor quem já cá está. A aposta na formação profissional e requalificação de trabalhadores, escolhida por 33% dos inquiridos, reforça esta urgência. É preciso investir mais e melhor na capacitação, com foco nas competências exigidas por uma economia em transição digital e verde. O ensino técnico e profissional, ainda marcado por um estigma ultrapassado, deve ser parte central da resposta – e os 30% que o referem neste inquérito mostram que as empresas já perceberam isso. Curiosamente, aumentar salários, muitas vezes apontado como resposta óbvia, surge apenas com 13%. Isto indica que os empregadores reconhecem que o problema não se resolve apenas com uma melhoria das condições salariais, mas sim com uma combinação de políticas activas de emprego, mobilização de talento global e investimento em produtividade.
Testemunho publicado na edição de Agosto (nº. 233) da Executive Digest, no âmbito da XLIII edição do seu Barómetro.
